segunda-feira, 11 de julho de 2011

Auto-elogio


     To cansada de conviver com os “fodões”, to rodeada de gente boa demais em tudo. Será?

    O elogio não desagrada, mas provoca no elogiado o senso crítico. Embora se sinta gratificado, ele sabe que poderia fazer melhor - e sente o peso dessa responsabilidade.
     O auto-elogio é o substituto do elogio que não aconteceu. É a mentira computada sem pudor. É a agressão à capacidade crítica. É o atestado de ignorância, pois equivale a dizer: "Como voce não sabe me avaliar, eu mesmo me avalio. E a verdade é esta, sou bom e faço o melhor!". Que feio!
    O auto-elogio dificilmente é proferido em diálogo com quem conhece bem o descarado. O auto-elogio é proferido perante quem é “de fora, de longe ou recém-chegado”. É a tentativa de impor uma imagem distorcida, antes que o outro compreenda e constate por si mesmo que a realidade é bem outra.
O auto-elogio é desespero de uma pessoa incapaz...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Visão distorcida.

Engraçado, outro dia estava lendo um texto da Martha Medeiros chamado desconstrução, um texto que fala de quando a gente conhece uma pessoa e construímos uma imagem dela. Esta imagem tem a ver com o que ela é de verdade, tem a ver com as nossas expectativas e tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma. É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos. Será que é isso mesmo? 
Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projetou em nós, desfazer-se deste amor, mais tarde, não será tão penoso. Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito tempo. No final, sobreviverão as boas lembranças. Mas se esta pessoa "inventou" um personagem e você caiu na arapuca, e foi exatamente o que aconteceu, aí, somado à dor da separação, virá um processo mais lento e sofrido: a de desconstrução daquela pessoa que você achou que era real.
Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se desapaixonar. É um sufoco. Exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir, que o seu desejo de amar é mais forte do que sua astúcia. Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representação – e olha, talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa
.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Carta ao meu neto João Miguel

Gostaria de Ser sua melhor companheira de brinquedos. Pena que tenhamos tão pouco tempo para brincar, tão pouco porque só sei brincar de passado, e você só sabe brincar de futuro. E ainda estarei brincando de recordação quando você começar a brincar de esperança. Mas antes que termine o nosso recreio juntos, antes que eu me torne apenas um retrato na parede, uma referência da minha nora, ou quem sabe até uma lágrima do meu filho, quero lhe dizer João Miguel, que vale a pena. 
Vale a pena crescer e estudar. Vale a pena conhecer pessoas, ter namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções. E, a despeito de tudo isso, ir renovando todos os dias a sua fé e a bondade essencial da criatura humana, e o seu deslumbramento diante da vida.
Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga sua recompensa; que não há livro que não traga ensinamentos; que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar;  que se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto com a vida do ignorante. Vale a pena casar e ter filhos. Filhos, que nos escravizaram com o seu amor.
Vale a pena João Miguel, mesmo quando você descobrir que tudo isso que estou tentando ensinar é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática, e cada um tem que aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre amarga, que o espinho fere, e que o pessimismo não resolve rigorosamente nada.  Vale a pena, até mesmo, envelhecer como eu e ter um neto como você, que me devolveu a infância.  
Vale a pena, ainda que eu parta cedo e a sua lembrança de mim se torne vaga.  Mas, quando os outros disserem coisas boas de seus avós, quero que você diga de mim simplesmente isso: “Minha avó foi aquela  que me disse que valia a pena.
           E não é que ela tinha razão?